quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Emil Brunner Contra o Estado Coletivista

      "Esta inversão da estrutura do Estado que, em vez de ser construído de baixo para cima, é organizado a partir de cima, é a única grande iniquidade do nosso tempo, a iniquidade que se sobrepõe a todas as outras, e as gera de si mesmo. A ordem da criação é virada de cabeça para baixo, o que deve ser o último é o primeiro. O excepcional, o subsidiário, tornou-se o principal. O Estado, que deve ser apenas a casca da árvore sobre a vida da comunidade, tornou-se a própria árvore. ". [Emil Brunner]
      O teólogo neo-ortodoxo Emil Brunner foi ordenado na Igreja Reformada Suíça e foi professor de teologia sistemática na Universidade de Zurique, onde ensinou continuamente, com exceção de extensas palestras nos Estados Unidos e na Ásia. Ele, junto de Karl Barth, buscou reafirmar os temas centrais da Reforma Protestante, defronte do clima predominante da teologia liberal. Embora, como Barth, ele fosse atraído para o socialismo religioso no início da vida, começou a olhar para o socialismo religioso como uma "ilusão bonita" após os horrores da Primeira Guerra Mundial. Além disso, aqueles horrores renderam frutos. Brunner encontrou algo mais terrível ainda: o moderno, totalitário, ateu, e coletivista Estado. Em resposta, ele se sentiu obrigado a formular um sistema abrangente de ética social cristã a partir de uma visão reformada, bíblica e personalista.
      A ética social de Brunner toma como "dado primário" o "ser humano" criado à imagem de Deus e "predestinado para a comunidade." A partir desse dado, ele veementemente critica o Estado coletivista como o "cúmulo da injustiça." De acordo com Brunner, a falha primária do coletivismo é que ele ignora a individualidade dada por Deus e da dignidade da pessoa humana. Da mesma forma, Brunner avança em críticas ao individualismo radical posto pela teoria democrática moderna, pois vê a comunidade como meramente instrumental aos desejos dos indivíduos totalmente autossuficientes. Embora esta conclusão difira da teoria política liberal clássica estritamente definida, os insights de Brunner sobre antropologia teológica têm um valor considerável para os pensadores sociais cristãos.
      O pensamento social de Brunner mais se coaduna com o liberalismo clássico em sua compreensão sobre o melhor regime, que ele chama de "federalismo", isto é, "o Estado construído de baixo para cima." De acordo com Brunner, Deus ordenou certas "ordens da criação" que são parte da graça preservadora de Deus para organizar a vida humana. Essas ordens incluem comunidades humanas na esferas intelectuais, puramente sociais, técnicas e econômicas. Brunner é muito explícito, no entanto, essa comunidade não é o mesmo que o Estado; Na verdade, tais ordens criacionistas existem sem o Estado e antes dele. Por exemplo, a família é a "comunidade primitiva" cujos "direitos têm precedência absoluta" sobre qualquer outra instituição. Além disso, entre a família e o Estado estão uma "série de elos intermediários", cada qual ordenado por Deus para determinados fins, que o Estado não é para usurpar, mas preservar e proteger. Assim, o estado é severamente limitado no seu âmbito de autoridade legítima.
Fonte: Justiça e ordem social por Emil Brunner (Lutterworth Press, 1945), e Política e teologia protestante: uma interpretação de Tillich, Barth, Bonhoeffer, e Brunner por René de Visme Williamson (Louisiana State University Press, 1976).
*Texto extraído deste link sobre política e religião.

Tradução: Marlon Marques

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